sexta-feira, 9 de maio de 2008

Pra o Vento Levar

A chuva repontada a vento traz a noite bem mais cedo
A vida sombria tem beleza de pintura em um quadro
Despencando o arvoredo, soprando o minuano gelado
Trazendo certa angústia que me acompanha a matear...

E saudade faz pousada no bater deste coração
O vento me traz a voz que guardo em recordação
Conselhos de amigos fiéis são lições desta minha vida...
Meus olhos como o céu, em aguaceiro, sem parada...

Vontade louca de fugir do rancho, de pegar a estrada
Lavar as lágrimas na chuva, em busca de realidade...
Se minha terra tem minhas raízes, tu tens minh’alma
E meu sono perdido, que só encontro de madrugada...

O dia se achega e traz a calma que fica e já não sai...
Do lado de cá do Rio Grande o sol só faz afirmar
Por distante que estejas, um recado pelo vento vai
As noites de amor e chuva, se foram pra não voltar...

Antes de encerrar um sentimento doce em reponte
Deixo o endereço para que me encontre um dia
Num toque de acordeon, por breve, curto instante
Em olhos úmidos, molhados de versos em poesia.

Nos momentos mais singelos, se perderá em nostalgia
Lembrando da noite que te desenhei com meu olhar
Quando o vento era carícia e a chuva canção e magia
Quando não viu nascer o dia, quando jurou me amar.

Motivos de Mate

Ergui bem alto meus olhos pra o céu
Senti bem longe os sonhos de retorno
Lavando a erva a versos no papel
Coração avesso que perdeu o tono.

Sei que destôo das cenas urbanas
Não me perdôo pelo que me fiz
Restando agora a um campeiro só as penas
Lembranças vagas de quem já foi feliz.

Com as janelas de casa cerradas
Me entrego a um mate que me faz sonhar
Se ainda mateio pelas madrugadas
É por anseios de me reencontrar.

Se ainda sorvo esse meu mate santo
É porque ele acalma a dor sentida
Mate é alma que inspira o meu canto
Amargo verde que me adoça a vida.

Quisera eu nunca ter partido
Pra casa grande aqui na cidade
Sem identidade, sem nenhum sentido
Raiz sem terra, seca por saudade.

Camilla

Temporais

Que essa garoa fina que cai devagar
Apague as pegadas do nosso passado
Que juntos o sol possa nos encontrar
Para qualquer cinza ser iluminado...

O inverno que chega de mansinho
Só fará com que fiquemos perto
Não há limites quando há carinho
Estar contigo, meu desejo certo...

Como queria meus olhos nos teus refletidos
Noite dessas que o céu em águas se desfaz
Parasse o tempo em temporal de sentidos
Nos mesmos braços que trarão minha paz...

Clarões espiam, são olhos da tempestade
Queria que ela não pudesse me ver assim
Sinto-me só em companhia desta saudade
Desta vontade egoísta de te ter só pra mim...

Todas as forças que a natureza faz uso
Fascinam-me nesta longa madrugada insone
É à chuva que confesso que tudo que preciso
É de ti, do som da tua voz chamando meu nome...

Camilla – 2008

sexta-feira, 4 de abril de 2008

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MISTÉRIOS DE MARÇO
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Quando março amadureceu em frio de outono
A natureza recolheu-se, protegeu-se do vento
Mas meus sonhos, de novo sem lei e sem dono
Mudaram de fontes por mais esse momento...
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Que mistérios envolvem os meados de março
Frágeis emoções espiam sem medo de nada
Pelas frestas do coração que sorri ao começo
Da paisagem de outono numa curva de estrada...
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Desvios, estradas, são sempre sinais de mudança
De caminhos diferentes e de sentidos renovados
São esses volteios os meus medos desde criança
Tantas vezes vi sentimentos em curvas perdidos!
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Mas os recebo sim, caminhos outonais
Inteiros com suas magias de recomeço
E prometo solenemente: nunca mais!
Nunca mais fugir do que não conheço...
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E sou grata às doces surpresas reservadas
Me surpreender e sonhar, é só o que faço...
Enquanto imagino momentos de mãos dadas
Eu, meu lindo, estradas e os mistérios de março"...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Prosas com o Irapuá...

“O Irapuá se recolhe devagar ao descanso, tardezinha
E nem o ventito que reponta a noite me leva à casa
Pé na porteira, olhos no céu, uma saudade só minha
Se chega mais escura que a noite, mais fria que o vento.
A palavra já não voa fácil, pássaro que quebrou a asa...
Mas conto pra o campo largo e quieto que me viu nascer
Que ouve há vinte e mais anos essa alma silenciosa
Meu coração é como a lua e só um lado é triste e vazio
O outro é adoração ao guri que lhe acelera a mil o bater
Doce e arisco, pimenta, canela, calma, mistério e desafio”...
*

O Tradicional “’tá tarde” de meu pai corta meus pensamentos
A frase que ouço desde criança como toque de recolher
Me faz sorrir devagar, mesmo sentindo os olhos molhados
Fixo as estrelas que as sombras revelam, tentando as prender
As lágrimas borram o brilho, e por meu rosto em descida
Vão fios de luz, saudade que de um peito cheio transbordou
Desfaz o riso, antes que chegue à boca a estrela desmanchada...
O toque de recolher se repete, menos rígido do que pode parecer
Pego o rumo de casa, o cuidado de deixar a cancela encostada
Com a certeza de que o tempo não deixaria tudo morrer
Amor não se termina, se transforma como campo que anoitece
Sabe que o sol não o encontrará tal e qual o deixou ao se pôr
Há morte na noite, brota sentimento em campo de coração sozinho...
Todos os dias nascem pra ser de saudades e de recomeço
Se o que se foi me fazia triste, meu presente é carinho
Meu sorriso é boa noite ao melhor conselheiro que conheço
Irapuá campo lindo adormecido, obrigada por me ouvir, sussurrei
E ao céu que assistia: Gracias meu Deus, me acompanhas também
Perdi tanto! Mas é incomparável o valor do tesouro que encontrei!
*
Sei que vou dormir logo, como nunca na cidade
Mas pensamentos sem nenhum permisso se vem
Cismo, quem pode saber da minha verdade?
Que sabem todos, de campo, que não sei também?
Não faz parte das teorias de teclado sobre Identidade
E doutorzinho nenhum saberá estudando o que é que tem
Nessa noite misteriosa, que entoa canções sem idade
Tão densa que alimenta, tão lenta que sinto o mundo girar
Adormeço no leito do Irapuá, é campo e rio sem vaidade
Velam meu sono como irmãos que protegem meus segredos
A madrugada puxa o astro luz em tom de cumplicidade
Imitando mistérios do olhar guri que adoro sem comparação
Pra mim saber que a noite ouviu meus sonhos e os espalhou
E o sol de novo cruzará o céu pra se pôr no canto do galpão
Fazer lembrar que foi num templo desses que tudo começou
São Lourenço repontava canções, ele tomava posse do meu coração”...

quinta-feira, 27 de março de 2008

Janelas









"Janelas que por vezes são espelhos, noutras são estradas
Se já refletiram minhas lágrimas quando estive perdida

Foram também o melhor destino, boas vindas de chegada
Sombreadas só nas horas mais tristes de inevitável partida...

Janelas que, se descerradas, inundam a vida de luz
Mesmo estivessem fechadas, prenderiam meu olhar
Recitaria a elas os versos carinhosos que compus
Num velar de sono me faria junto num abraço serenar...

E se hoje esse dia frio nasceu cinzento e nublado
Miro no retrato o mesmo brilho do astro nas janelas
Perfeitas, se o sol não nasceu, decerto anda enciumado
Não possui o mistério incandescente que vejo nelas...

E se tanto fascínio causaram a minha alma
Luminosas fontes de beleza, verdade e calor
É porque essas janelas, paisagens de tarde calma
São janelas de alma pura: são os olhos do meu amor...

Milagre que não se explica, nem fé ou ciência
O de transformar o mundo todo num despertar
Compreendi o sentido de tanta coincidência
Ao ver a vida pela janela daquele olhar..."



Ao meu anjo, meu menino ... meu poeta carinhoso... homem de alma verdadeira, sem vaidades, sem sombras...
De palavras doces, maneiras corretas, coração imenso...
Te dedico meus versos " sempre", como meus beijos de dias "todos", das horas "muitas", das vidas "todas"...

sábado, 22 de março de 2008


Mate de Sonhos

Camilla Zago


Vida que refaz momentos de sonho
Trouxe ao acaso o coração de alguém
Feito somente pra ser meu caminho
Calar as tristezas que sente também

Ensinou-me que silêncios são de ouvir
Podem ser música o sopro dos ventos
E o outono sabia que estavas por vir
Com sorriso manso de borrar lamentos...

É o simples que renova a esperança
Mais belo que o mar é o rio sereno
Convida, trazendo pra alma esperança
De fazer morada no olhar moreno

A água mui quente lavou o verde
Ficou a cuia sem gosto, sem cor
Mas essa vida saciou minha sede
Em mate novo sem mágoa e rancor...

Nem o inverno que vem repontando geada
Esfria o mate que de beijos conserva o calor
Se acaso um dia a erva se anunciar lavada
Refaremos do início, mesmo riso e mais amor.




Repontando Saudades

Camilla Zago


A voz campeira que ecoa sonora
Em bom espanhol, num timbre tristonho
Transforma minutos em tempo de horas
Lua, lagoa, num cenário de sonho.

Num galpão de festa, coração já cansado
Repassa momentos que não soube esquecer
Se só se magoa lembrando o passado
Decide: é momento de voltar a viver...

Me abrigo no poncho de um olhar moreno
Que me trouxe carinhos, sossego e verdades
Secando minhas lágrimas como o sol ao sereno
Vivo nele pra sempre...repontando saudades

Todas as paisagens se confundem, refletidas
Nos olhos de noite que o destino marcou
Pra ser o porto de esperanças perdidas
De um amor tão antigo que só o tempo lembrou.

Só o eco se ouve de velho sentimento distante
Quando acaso e destino em canções de festival
Tocam o coração em acordes de amor em reponte
Fazendo letra perfeita pra melodia sem igual.


***


Com carinho, com admiração... Ao lindo que se fez âncora pra o meu coração, quando uma correnteza de angústias me levava por diante... Que com palavras sérias me devolveu o riso, e num sorriso calmo me fez serena e cativa desse espírito de luz que me fascinou...












segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

...



"TRACEI UM DESTINO..PRA SEGUIR CERTO! RASGUEI OS MAPAS...REDESENHEI O CAMINHO...MAS ME PERDI NUM LARGO, DISTANTE DESERTO...É OFENSA A UM AMOR OFERECER CARINHO"...



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Escrevo porque...

Eu escrevo...porque não posso viajar quando e para onde quero...
Porque não sei ser atrevida, mas meus desejos se deitam tão à vontade sobre o papel...
Eu escrevo porque eu gosto de falar, mas sempre me sobra o que dizer que não cabe na voz...

Porque eu adoro ser menina, porque que eu preciso ser mulher...porque eu quero ser livre, mas ter para onde voltar...
Escrevo porque tem estrelas no meu céu, e não lâmpadas fluorescentes... porque eu não acho que dia de chuva seja "tempo feio"...
Escrevo porque eu me apaixono pelas músicas, e pelas histórias...e pelo herói do romance...
Escrevo porque habitam em mim outras pessoas que nem sabem disso...
Escrevo porque meu amor não é cego, apesar de surdo...

Escrevo porque preciso suportar as lembranças...espalhá-las para que queimem menos...
Escrevo porque amo demais, e quem teme “eu te amo” são os humanos, não os livros, as palavras....ou meu espelho...
Escrevo porque um psicólogo seria caro demais e não tenho amigos que possa confiar...

Escrevo porque eu choro quando meus animais de estimação morrem...e porque não tenho vergonha de comer algodão doce na pracinha com 23 anos de idade...
Eu escrevo porque as vezes eu fico sem certezas...
Porque preciso sentir o amor que queria ter...roubar o beijo que não tive coragem...escrevo para acariciar teus cabelos...

Porque eu tenho vontade de voltar a ser menina e pedir colo...
Porque eu tenho medo de me perder de mim... minhas letras são meu mapa...
Escrevo pra montar a colcha de retalhos que é minha vida...

Escrevo porque nem tudo meu espelho reflete, mas as letras são meu retrato mais fiel...
Escrevo porque nem eu me traduzi ainda... estou decodificando-me...
Escrevo porque as palavras sonham comigo, dançam comigo...riem, fazem castelos de areia e jogam cartas, mateiam... e me devolvem os sentimentos que lhes devoto no mesmo teor...
Escrevo porque sou diferente, estranha e ninguém me vende nada a troco da moeda que uso...
Escrevo porque tenho saudades de acreditar.
Escrevo porque eu desisti de tentar ser igual, ser normal.